Wednesday, June 22, 2011
O perigoso mundo do crime aos olhos de Augusto Paulino
Paulino afirma que crime organizado se impõe em Moçambique
PGR diz que o crescente negócio imobiliário no país é alimentado pela lavagem de dinheiro. Acrescenta que o crime organizado controla os poderes judiciais, legislativo e executivo.
O procurador-geral da República, Augusto Paulino, fez, esta segunda-feira, um discurso contundente e perturbador sobre o crime em Moçambique, onde afirmou que o país é rota do tráfico de pessoas e de drogas e que o crescente negócio imobiliário parece ser alimentado pela lavagem de dinheiro.
Aos olhos do procurador-geral da República, que falava durante uma palestra na Academia de Ciências Policias (ACIPOL), em Maputo, a economia nacional não é capaz de comportar construções da dimensão das que se erguem nas grandes cidades, com destaque para a capital do país.
As mansões que se erguem a cada dia na cidade de Maputo e os vários projectos de construção de condomínios encontram explicação, no entender do guardião da legalidade, nas práticas económico-financeiras que têm por finalidade dissimular ou esconder a origem ilícita da riqueza de vários cidadãos.
Augusto Paulino é cáustico também quando aborda o tráfico de drogas e de pessoas. Diz o procurador-geral da República ser “óbvio que temos situações de tráfico de nacionais para a África do Sul, para exploração sexual” e que “apesar do país não ter capacidade económica de consumo de quantidades significativas de drogas, tem tido soluções menos conseguidas para gerir o fenómeno”.
O “caso Diana”, em que uma cidadã nacional está a ser julgada acusada de recrutamento de jovens moçambicanas para o mercado da prostituição na África do Sul, é para Augusto Paulino um sinal ilucidativo de que o crime de tráfico de pessoas para o comércio do sexo é um problema real no país.
Relativamente ao tráfico de drogas, aponta vários exemplos, dentre os quais a apreensão, em 1998, de 40 toneladas de haxixe embaladas como se de castanha de caju se tratasse, e a descoberta, por pescadores, em 2009, de quantidades de haxixe nas margens do Oceano Índico, em Chongoene, província de Gaza.
Os tráficos de droga, de seres humanos e de armas representam, segundo as Nações Unidas, as três mais lucrativas formas de criminalidade organizada, movimentando somas superiores aos orçamentos dos Estados.
Estado capturado
Augusto Paulino disparou ainda contra os poderes do Estado, que sucumbem aos esquemas de aliciamento montados pelo crime organizado. Disse que o crime organizado consegue colocar o poder judicial, legislativo e executivo ao seu serviço, “penetrando na máquina policial e manietando todos os que se dedicam à causa da maioria”.
O guardião da legalidade fala de “homens que, pela fraqueza da alma, caem na marcha longa” e sublinha que é “a partir dos centros nevrálgicos do poder que o crime organizado actua”.
O terrorismo e o tráfico de armas, de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas, entre outros crimes, não podem, de acordo com o procurador, “ser realizados sem uma organização com finalidade criminosa de caris nacional e internacional”.
Os difíceis anos 2008 e 2009
Para o “homem forte” do Ministério Público, o crime violento que sacudiu a cidade de Maputo entre os anos 2008 e 2009 deveu-se à intensificação das acções da polícia, que levantou a ira das gangs e levou a que estas elaborassem estratégias de eliminação física de membros da corporação.
Augusto Paulino diz que os bandidos assustam a polícia para fazer crer “que quem com os criminosos se mete não tem outro caminho, senão a morte”. Lembrou que, depois da guerra civil, Moçambique assistiu a um período de proliferação de armas, altura em que cresceram as infracções económicas, nomeadamente fraudes bancárias, burlas, falsificações e corrupção.
Fonte: «Jornal O País»
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