Em ‘Presidência Aberta’ na província de Nampula
Na Ilha de Moçambique, Guebuza foi obrigado a pagar uma dívida de 7 mil meticais, contraída pela OMM – organização feminina do partido Frelimo
Nampula (Canalmoz) – O presidente da República de Moçambique, Armando Guebuza, trabalhou durante a semana passada na província nortenha de Nampula naquilo a que chama de ‘Presidência Aberta e Inclusiva’, tendo escalado sucessivamente os distritos de Murrupula, Ribáuè, Muecate, Ilha de Moçambique e Memba, onde, em comícios populares, dialogou com os residentes daqueles pontos, bem como com cidadãos que se deslocaram dos distritos não visitados pelo PR com a finalidade de se queixarem a ele sobre da gestão partidária e, vezes sem conta, da gestão da coisa pública em Nampula.
Já em Memba, sua última escala em Nampula, antes de rumar para a província de Cabo Delgado, Guebuza, na tarde da última sexta-feira promoveu uma conferência de imprensa. Segundo ele foi “para fazer balanço” da sua visita. Disse durante o encontro que apenas viu o que gostou e que não tinha tempo para ver o que não gostou ou não lhe agrada.
Guebuza paga dívida da OMM
Neste roteiro, o chefe de Estado ouviu diversas reclamações, desde a fraca prestação de serviços públicos até aos problemas pessoais. Na Ilha de Moçambique, o PR viu-se obrigado a pagar sete mil meticais a uma senhora que tinha sido enganada pelo partido Frelimo de que ele é dirigente. O facto deu-se quando a referida senhora foi persuadida a concorrer para secretária da OMM, Organização da Mulher Moçambicana, uma organização social do partido Frelimo e, como tal devia investir na sua campanha eleitoral, tendo a ‘camarada’ feito o que lhe foi aconselhada. Só que para espanto dela, dias antes da realização das eleições, foi informada que a sua candidatura tinha sido excluída, sem motivo palpável. Até esta altura a aludida senhora, por sinal viúva, já tivera investido o pouco que restava das suas poupanças na campanha. Com o chefe de Estado em Nampula, a senhora viu ai a sua única oportunidade de reaver o seu dinheiro, tendo saído com sorte porque o ‘número um’ do partido de que ela é membro lhe ressarciu os danos. Embora a visita àquele ponto do país tenha sido em agenda do Estado, Guebuza, mais uma vez, com este gesto, cumpriu agenda do seu partido.
Há fraquezas na agricultura
O chefe de Estado reconheceu fraquezas em certas áreas. Vi o que gostei e o que não gostei não tive tempo de ver, por o primeiro lote de coisas que vi ser bem maior, disse.
Armando Guebuza afirmou que a província mais populosa do país, dirigida por Filismino Tocoli (NR: o governador que mandou criar cancelas humanas nas ruas que circundam a sua residência oficial, cujas despesas são asseguradas pelo erário público) continua a progredir, sobretudo na área política.
Os órgãos locais do Estado têm a consciência da sua responsabilidade e têm estado a criar soluções para os problemas que afectam as comunidades pelas quais respondem, considerou. Esse dado notado pelo PR, deve-se à revitalização das bases do partido Frelimo, galvanizadas pela introdução, desde 2006, do Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD), outrora chamado Fundo para o Investimento de Iniciativas Locais (FIL), os famosos ‘sete milhões’. Este valor actualmente ascende os vinte milhões de meticais. Ao manifestar-se satisfeito com o que viu o PR demonstraria que no seu ponto de vista o Partido Frelimo em Nampula, província que acolhe como residente o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, continua vivo.
Fraquezas nos sectores técnicos
Quanto à prestação de serviços na administração pública e governação, o PR fez transparecer que está satisfeito, mas deve ter notado apenas fraquezas, pese embora tenha dito que o que viu gostou.
Guebuza disse que a província está a produzir o suficiente, porque as metas de produção de culturas alimentares na campanha agrícola passada foram para além do planificado. Mas quem produziu não conseguiu vender a produção.
Os produtores queixam-se da comercialização agrícola. Queixaram-se de que não têm acesso ao mercado e dos preços impostos pelos compradores.
Guebuza entende ser necessário o agro-processamento, para galvanizar os camponeses que produzem e vêm os seus produtos apodrecerem nos seus celeiros. Mas o facto é que os problemas são de hoje e o Governo não tem respondido com a sua parte às preocupações de quem produz.
Imigração ilegal na ribalta
Nampula acolhe o centro de refugiados de Marratane e nos últimos tempos assiste a um fluxo desusado de imigrantes ilegais. Convidado a falar deste fenómeno, o PR reconheceu que é preocupante.
Paz e unidade nacional
Neste momento, em cada discurso os governantes fazem apelos à paz. Tal prática já é vista como “medo da eclosão de manifestações” no país que se admite poderem ocorrer a qualquer momento devido à pobreza ascendente que oprime a maioria do povo.
Guebuza falou disso e defendeu que a Paz foi conquistada com muito suor. Mas frisou que “não quer dizer que a paz está ameaçada”.
Quanto apelos à Paz que surge como um novo discurso de Armando Guebuza, a opinião pública local entende que resultam do facto do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, ter vindo a ameaçar com grandes manifestações e também do facto dos desmobilizados de guerra estarem ultimamente a ameaçar retaliar pela falta de atenção que o governo lhes dá. Queixam-se eles da vida difícil que hoje têm embora tenham combatido pelo País.
O roteiro em Nampula
Em cinco dias e igual número de distritos, o Presidente da República escutou sucessivamente o que sempre lhe foi dito nas ‘presidências abertas e inclusivas’ e voltou desta vez a ser repetido pela população. Foi-lhe dito que a administração não tem estado a funcionar à altura das preocupações dos cidadãos.
Em Murrupula, por exemplo, várias denúncias foram feitas, sendo as de realce a não fixação e pagamento de pensões aos ex-militares que preenchem os requisitos necessários para o efeito.
Os trabalhadores da Empresa de Construção e Manutenção de Estradas Públicas, ECMEP (cuja estrutura accionista compreende 80% do Estado e 20% dos trabalhadores), deslocaram-se a Nihéssiué para dizer ao chefe de Estado que estão há onze (11) meses sem salários e três meses sem décimo terceiro, incluindo outros subsídios.
Estes são apenas alguns casos da indignação latente em Nampula.
Fonte: Canalmoz.(Aunício da Silva)
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