CRÓNICA Por: Gento Roque Cheleca Jr., em Bruxelas
O desenvolvimento não será duradouro num contexto de injustiça, nem será duradouro se não repartir melhor, porque um dia os marginalizados, os que sofrem, os excluídos, um dia rebelar-se-ão pela força e assim entraremos no círculo de sempre. Temos que dizer não à lei do mais forte que sempre se impõe ao mais fraco e comportarmo-nos de uma vez por todas como seres humanos capazes de ouvir, de dialogar e de chegar a conclusões.
Francis Fukuyama, Professor de Políticas Públicas, George Mason University
Há quatro anos em conversa com Chale Ossufo, então administrador de Nacala-Porto e actual edil da mesma cidade, garantia-me em privado caso fosse eleito à presidência do município nacalense, resolveria em dois tempos a problemática de abastecimento de água que afecta dramaticamente a população daquela urbe, aposta que foi sustentada pelo seguinte juramento que cito de memória: Juro pela minha honra que serei a solução dos problemas de Nacala-Porto. Os nacalenses me conhecem e sabem que sou um homem de trabalho e de resultados satisfatórios, portanto, não preciso de parangonas para publicitar minha obra….
Prometer é gravar com letras douradas. O incumprimento é um crime que jamais abandonará as páginas da memória das vítimas, lucubrou o poeta moçambicano no anonimato ‘Nkulu’ (o mesmo que dizer, na livre tradução em língua cinyungwe, ‘mais velho’ ou ‘grande homem’. Já iremos saber mais adiante saber se Chale Ossufo tem estado a cumprir com as parangonas da sua campanha eleitoral, muito em particular, se o juramento por ele feito é de levar à letra ou não.
Como diria um estadista português, eu não posso espiar o pecado de quem não cumpriu suas promessas.
Totalmente de acordo. A pouco menos de dois anos do fim de seu mandato, Chale Ossufo, homem de muita retórica e político de mão cheia (não recomendável a cadetes), está por cumprir o velho problema de Nacala-Porto: a escassez de água potável e não só. A vida em Nacala-Porto, no que toca ao abastecimento de água, não difere muito da de Darfur ou da Somália, no Norte de África, em que famílias inteiras não têm horário à procura do precioso líquido. Afinal o Zambeze e outros potenciais rios que temos também não são nossos? Então porque o nosso maravilhoso povo não tem água potável em Nacala-Porto?
Numa altura em que se fala de progresso económico e social, o cartão-de-visita de Nacala-Porto é a falta de água. O problema parece agudizar-se, visto que a reabilitação da barragem além de demorada, não me parece ser uma solução definitiva para o cancro maligno que afecta os nacalense.
Em primeiro lugar, a pluviosidade de Nacala-Porto é diminuta e o rio inconstante, quando chove o caudal do rio não ultrapassa o tamanho do tornozelo; segundo, a população de Nacala-Porto multiplica-se à velocidade da luz e o deficiente ordenamento territorial da urbe poderá a longo prazo frustrar os anseios da edilidade na medida em que nem todos os nacalenses terão acesso ao precioso líquido; terceiro, devido à fraca pluviosidade a água armazenada na actual e provavelmente na futura barragem será, como é, de qualidade indesejada, o que se agoura problemas de saúde pública.
Poderíamos igualmente falar do clima extremamente quente, do relevo sinuoso e de muitas indústrias de transformação (que consomem muita água) mas, como um bom crítico não basta apenas elencar erros, deve também, em igualdade de critérios, apresentar soluções plausíveis, nisso, recomendo à edilidade o exemplo concreto de Cabo-Verde em matéria de abastecimento de água. Uma de muitas saídas eficazes que o país de Baltazar Lopes, de Aguinaldo Fonseca e de Cesária Évora usa é a construção às carradas de furos (cisternas).
Nem uma gota de água é desperdiçada em Cabo-Verde. Os poucos riachos jusantes que o país tem são de súmula importância para os cabo-verdianos, a sua conservação e valorização são uma imposição do dever nacional, porque, segundo o engenheiro Júlio César Lima O peixe não tem a noção de que a água lhe é vital, enquanto não fizer uma incursão na atmosfera.
Sem querer mexer no vespeiro, diríamos que a própria Ilha de Moçambique, património da humanidade, também a braços com a escassez de água potável, no tempo da dominação colonial era abastecida de muitas cisternas actualmente em estado arqueológico.
Infelizmente, para certos dirigentes do nosso país a independência nacional só tem sentido de ser quando for extirpado do solo pátrio os casos de sucesso da época, pois não lhes interessam porque, na bonança ou na crise, não há moderação nem no ser nem no ter; é sempre a desperdiçar. E mais, Lima acrescenta que, Para uns o Mundo tem a dimensão da pupila dos seus olhos; para outros, um pouco maior, de um iPad.
Nacala-Porto precisa de água como a Palestina de paz. O tempo é este. O tempo de projectar um país que ande para a frente. É preciso parar duma vez por todas com os inquéritos supérfluos ou com estudos de prospecção que são sempre custosos para as gerações vindouras, mas que engordam à ignorância de quem os paga, manda e ordena. Haja respeito por este povo lutador.
Quantas barragens têm o país que só servem de estatística para o “inglês ver”? Até quando o nosso governo vai perceber que a demagogia nesta altura do campeonato não resolve os problemas do povo moçambicanos?
Como dizia o outro A demagogia é a coisa mais popular que existe, mais irresponsável e a mais perigosa.
Fala-se de Nacala-Porto como sendo o grande repositório de receitas do país. Criaram nela uma zona exclusiva (franca) onde, face às dificuldades existentes de abastecimento de água potável, é visível a “gravidez” de novas construções. Até aqui nada contra. O problema, porém, verifica-se quando à margem dessas indústrias de ponta, milhares de nacalenses vivem de tubérculos e de barrigas inchadas. A pobreza flutua em Nacala-Porto.
As pessoas estão em último lugar.
Um estudioso escreveu que O desenvolvimento de um país ou de uma região será sempre o resultado da competência e do dinamismo da sua população.
Perguntei a um nacalense o que ele achava da gestão do senhor Chale Ossufo, tendo respondido da seguinte maneira: SR. CHALECA, NACALAPORTO É UMA BARRIGA DE ALUGUER DOS CAMARADAS E SEUS SÉQUITOS. EM NACALA-PORTO O ESTADO MORDE COM OS DENTES EMPRESTADOS. É SÓ MENTIRAS E FUGAS PARA A FRENTE ATÉ AO PRECIPÍCIO.
De facto, a paisagem de Nacala-Porto é dourada – nisso a edilidade está de parabéns –, mas o estômago da maioria dos nacalenses revela estiagem.
Fica um apelo ao “amigo” Chale Ossufo, nas palavras do carinhoso professor José Mattoso: O que fica para a história não é o fortuito, são as decisões, é o que acontece.
‘Kochikuro’ (Obrigado)
PS: Esta crónica vai dedicada ao amigo das velhas lucubrações ‘Xavito Xa Valoi’, por tudo aquilo que vi e pelas promessas que ficaram por ver no futuro, quando, querendo Deus, regressar à Nacala-Porto…
Fonte: WAMPHULA FAX – 20.01.2012
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