BLOG DEDICADO À PROVINCIA DE NAMPULA- CONTRIBUINDO PARA UMA DEMOCRACIA VERDADEIRA EM MOCAMBIQUE

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Friday, September 9, 2011

Onde estamos nós metidos?

A PGR apareceu-nos na última sexta-feira a “absolver” quem a administração americana, com o aval do próprio presidente Barack Obama apelidou de “Barão de Drogas”. Mas o mesmo comunicado da PGR admite que Mahomed Bachir Sulemane e as suas empresas sonegavam dinheiro ao Estado. Di-lo com imensa naturalidade e acrescenta, quase em tom de que acaba de conquistar um troféu que o MBS já está a devolver. Di-lo com um descaramento assustador, é o que podemos pensar partindo a ousadia de quem parte.

A PGR, entretanto, não comenta o que a tal brigada da PIC “supervisionada” por uma magistrada do Ministério Público terá apurado relativamente aos tais cinco passaportes que a administração americana diz que o magnata Bachir possuía. Fomos perguntar à PGR o que terá acontecido a essa parte da investigação e apenas nos disseram – resguardados no anonimato – que está a decorrer um outro inquérito, em paralelo, em que já há funcionários a serem investigados. Logo assim admitia a PGR que terão sido encontrados indícios fortes de algo estranho. De outro modo não haveria ninguém sob investigação. E, havendo, perguntamos: porquê um inquérito paralelo se fazia tudo parte do mesmo pacote de acusações americanas? E porque não esperar que toda a investigação termine para depois então a PGR emitir um comunicado completo?

Que mensagem esta PGR quer transmitir ao País com estes malabarismos?

E por que razão se apressou a publicar o comunicado: será porque o Presidente da República Armando Guebuza está para visitar este mês as Nações Unidas em território americano e pode ficar à mercê de perguntas inconvenientes de jornalistas estrangeiros?

Diz a PGR que os investigadores da PIC e do Ministério Público não encontraram evidências contra o cidadão Mahomed Bachir Sulemane nem contra o grupo MBS, mas se apanharam o MBS em descaminhos aduaneiros será que não poderá ter havido em situações anteriores outros descaminhos?

“Foram apurados factos suficientes sobre violações aduaneiras, violação da legislação cambial e prática de infracções fiscais”, escreve a PGR no comunicado de sexta-feira, 02 de Setembro de 2011 em que afirma peremptoriamente que durante as “diligências realizadas” (…) “não apurou indícios suficientes que consubstanciem o tráfico de estupefacientes ou substâncias psicotrópicas”.

Até o próprio cidadão Bachir deve estar ofendido por o terem colocado em posição tão ridícula na praça. Mais ainda pelo facto da própria embaixada americana ter vindo logo reiterar que mantém todas as acusações contra o magnata do MBS. E ontem mesmo ter voltado a afirmar que “Bachir é um traficante de drogas significativo”.

‘Quase que mais valia estarem calados’, comenta a opinião pública à boca cheia a propósito do comunicado da PGR. Certos sectores da opinião pública chegam mesmo a admitir, com ironia nos lábios, que este precipitado comunicado da PGR vem na esteira de necessidades financeiras do partido no poder nesta fase em que se encontram os preparativos de mais um congresso da Frelimo. Tudo serve agora para ridicularizar a PGR.

“Reiteramos a nossa total confiança no processo rigoroso, conduzido por agências múltiplas do governo dos EUA no ano passado, que encontrou evidências suficientes para a designação do senhor Bachir como Barão de Droga” – reafirmou em resposta imediata ao comunicado da PGR, o adido para a Imprensa e Cultura da Embaixada dos EUA em Moçambique, em comunicado de 05 de Setembro de 2011.

A Procuradoria-Geral da República, com apoio de agentes da PIC, concluíra que “foram apurados indícios suficientes de factos” que indiciam “violação dos procedimentos relativos ao desembaraço aduaneiro”. Então a violação desses mesmos procedimentos não terá estado na origem de casos que levaram às acusações americanas?

“Consideramos como bom sinal a investigação das violações aduaneiras e de impostos, actividades que em muitos casos servem como base para investigações de tráfico de estupefacientes e outros actos ilegais”, diz ainda o adido americano em Maputo, só lhe faltando lembrar que Al Capone nunca foi preso por tráfico mas por sonegar dinheiro ao Estado.

Se o que a PGR fez foi para ajudar Guebuza em vésperas de ir às Nações Unidas, prestou-lhe um péssimo serviço. Com amigos destes bastam os inimigos…reza um velho ditado universal.

E quando nesta mesma altura nos chegam mais telegramas do ex-representante americano em Moçambique durante o primeiro mandato de Armando Guebuza, com comentários não menos assustadores de um ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e de um ex-deputado da Assembleia da República que não se lembra de ter dito o que Chapman afirma mas admite que não há vontade política para se enfrentar o narcotráfico, como nos podemos sentir no meio de tudo isto?

Que credibilidade querem as nossas instituições fazer-nos crer e fazer crer ao mundo que merecem?

Moçambique está mesmo doente! É uma enorme tristeza! E não acontece nada como é normal com estes escândalos, em verdadeiras democracias, acontecer. Pelo menos há vergonha. Aqui nem isso.

Fonte:(Canalmoz / Canal de Moçambique)

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