Maputo (Canalmoz) – Para quem alguma vez teve dúvidas está agora definitivamente claro que os senhores da Frelimo não querem combater corrupção nenhuma e que tudo o que tentam fazer-nos crer que seja a sua vontade política não passa de uma grande treta. A recusa em acelerar o passo para que o País disponha o mais urgentemente possível de uma Lei que permita a PGR deixar de se andar a queixar que não há lei para punir os devaneios dos dirigentes do Estado e a delapidação do que é de todos nós deixe de continuar impunemente, mostra bem que quem tem telhados de vidro anda a ver se adia as soluções.
O Parlamento não tem pressa. A Renamo propôs que se dê prioridade e se considere urgente a Assembleia da República tratar de produzir legislação adequada que o PGR no seu informe à AR disse há pouco que não existe no País, mas a Frelimo disse que não importa vamos andando assim.
Embora seja uma urgência para se estancar a “farra” que certos senhores andam a fazer impunemente com o dinheiro e bens dos contribuintes, da ala dos que têm o Estado nas mãos e por isso são os únicos que têm estado a delapidá-lo, a resposta foi o “deixa andar”.
A prática é o tira teimas. E aqui está a prova de que não há pressa de dotar o País de uma lei que acabe com a “farra”. O que se passou há dias na Assembleia quando negaram a urgência de se rever a Lei 1/79 é não só uma vergonha, mas o fim das ilusões de quem queria ainda acreditar que naquela casa há vontade política para se por termo aos abusos com o erário público.
Ficou claro que para alguns o Estado convém que continue a ser a sua cotada.
Se há, contudo, ainda alguém, na Frelimo, convicta e continuadamente interessado em preservar o bom nome da instituição, que fique também claro que mosca varejeira é mosca varejeira. E Homem que se queira diferente tem de mostrar que não se mistura com quem já está bem identificado com o submundo da porcaria.
Quem alguma vez se iludiu deixe-se de mais ilusões.
E mesmo ao nível da oposição, há quem já não deixe dúvidas. Pelo cantar dos pássaros sabe-se bem quem quer que as coisas mudem e quem se posiciona repetidamente apenas para se por a jeito de modo a que alguém lhe avance com o bife.
Na oposição está também claro quem tem rabos-de- palha. Sabe-se bem quem anda preocupado com o “deixa andar” e quem não quer que as coisas acelerem por forma a que o País passe a dispor de legislação suficiente para combater a corrupção.
De uma vez por todas: para quem realmente a honestidade não é uma palavra vã, entenda-se que os novos tempos estão a ficar difíceis e é preciso fazer-se qualquer coisa.
Enganar mais este povo não é coisa que poderá durar muito mais tempo.
De dia para dia os cidadãos que apenas querem levar uma vida decente estão a ver cada vez melhor que estamos com governantes entre os quais já poucos cultivam a decência.
Apesar dos persistentes abusos de confiança com recurso a fundos públicos, alegra-nos apercebermo-nos, pelo que vamos ouvindo nas ruas, que há cada dia mais cidadãos com os olhos bem abertos e com cada vez menos paciência para continuarem a engolir mais sapos vivos.
Quem se atrasar a compreender isto, um dia vai arrepender-se.
A paciência tem limites.
O povo está farto e já não esconde.
Estão a aparecer os primeiros sinais de que a Liberdade é para nunca mais se deixar fugir.
Um dia isto vai explodir sem dó nem piedade. Agora não é só no Norte de África e Médio Oriente que a paciência dos povos se está a esgotar perante dirigentes corruptos. Em Espanha, e não tarda pela Europa toda, as coisas também já se estão a por boas.
É urgente que quem continua a não compreender que o Povo está farto, reveja com a máxima urgência as suas ilusões.
Nós não nos sentiremos nem pouco mais ou menos responsáveis pelo que aconteça entre nós.
Estamos cansados de avisar que o púcaro tantas vezes vai à fonte até que se parte.
Em todos os países o Povo é bom.
Em todo o mundo os povos são pacíficos.
O povo moçambicano já se contentou com missangas.
O povo moçambicano já se contentou com óculos de lentes espelhadas.
Um dia disse chega.
Já vai longo o percurso de alguns de nós por jornais. Quem anda nisto há quase quatro décadas já viu pontes mais fortes ruírem.
Sabemos que tanto enriquecimento incomensurável só pode ser produto de batidas e de cola nas mãos.
Vimos os grandes ricos chegar das matas com os olhos eivados de sangue a pedir a pele dos capitalistas. Hoje vemo-los a pedir Paz.
Está claro que quem pede Paz sabe que ela está por um fio.
Quem começou por acumular com o que extorquiu a outros só pode saber o que sentia quando outros o extorquiam a ele e por que razão um dia se revoltou.
É sobeja e vulgarmente sabido que só uma classe média estável pode assegurar estabilidade a uma sociedade.
Nós não temos uma classe média. Temos meia dúzia de cidadãos que se podem considerar classe média, mas a nossa classe média é tão reduzida que qualquer ventania a pode varrer e de um dia para o outro quem a integra está de novo na fossa.
O pouco que temos de classe média está pendurado em crédito bancário.
Países muito mais estáveis estão à beira do abismo. Mesmo na Europa que se julgava inabalável.
Aqui as oportunidades são mais, mas a administração pública está a dar cabo delas, dificultando a vida aos cidadãos o mais que pode.
Quem está no Estado não está para servir ao mais alto nível, está para se encher.
Aqui vigora a política de saco na mão, mão no saco.
É perigoso. Dura enquanto dura. No dia em que acaba a paciência de quem andou de medo em esperança a deixar oscilar os seus sentimentos, os que têm o saco vão passar pelo que passou Mobutu, ontem, e Mubarak e Kadhafi, mais recentemente. Todos eles tinham muito poder, mas o poder dos que se cansaram deles foi suficiente, um dia, para os varrer do mapa.
Os seus acólitos normalmente também levam, mesmo que tenham andado alguns convencidos que andavam a servir a Pátria andando a lamber as botas dos oportunistas que não se cansavam de chamar aos outros profetas da desgraça.
O que acabamos de ver no Parlamento mostra bem que mesmo até na oposição já há quem receie uma lei objectivamente contra a corrupção, que não proteja os dirigentes.
A propensão de alguns senhores da oposição está também a ficar clara. Estão na oposição porque é a segunda linha para estarem com a mão no saco.
O erário público e o património do Estado não podem continuar mais sujeitos aos apetites de gente que não tem a convicção de que é preciso mesmo não se vacilar mais e é antes preciso avançar-se de cabeça para se por termo à “farra”.
Os doadores que sempre foram vistos como os salvadores, estão progressivamente a transformarem-se em parte do problema. São eles que agora enchem o prato dos chupistas, comilões, e não deixam que os cidadãos ponham termo ao repasto a que todos estamos a assistir.
Tem de haver alguém que dê um ‘coice’ a isto tudo para que acabe a festa.
Alguém consegue continuar a acreditar que disto para onde nos empurraram seremos ainda capazes de sair sem ser à força? Gostávamos de ainda sermos capazes de nos deixar iludir.
A brincadeira tem de acabar. O país precisa de estabilidade, mas com corruptos ao mais alto nível não se vai a lado nenhum.
De que vale fazerem edifícios novos para instalar o tal gabinete de combate à corrupção sem que haja leis que permitam punir os grandes corruptos? Quem querem continuar a enganar?
Fonte: (Canal de Moçambique/Canal Moz)
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