referem telegramas da embaixada americana em Moçambique, publicados pela Wikileaks no seu portal na internet
Num telegrama, o Chefe de Estado Armando Guebuza é descrito como um “escorpião vicioso” e alega-se que “encaixou de comissão”, “entre 35 e 50 milhões de dólares” no negócio da reversão da Hidroeléctrica de Cahora Bassa de Portugal para Moçambique. Ai nasceu o slogan “Cahora Bassa já é nossa”. Telegramas do então chefe da missão diplomática dos EUA em Moçambique, apontam figuras como Armando Guebuza, Joaquim Chissano, Luísa Diogo, Aiuba Cuereneia e o director-geral das Alfândegas, Domingos Tivane, como estando envolvidos no narcotráfico. Luísa Diogo, Primeira-ministra que antecedeu Aires Ali, é descrita como colectora de subornos para o partido Frelimo O jornal francês, Le Monde, citando correspondência revelada pelo Wikileaks, referiu ontem que em Moçambique operam duas grandes redes de narcotráfico, respectivamente lideradas por dois moçambicanos de origem asiática: Mohamed Bachir Suleimane (MBS) e Ghulam Rassul Moti .
O Wikileaks divulgou telegramas enviados pelo então encarregado de negócios na Embaixada dos EUA em Maputo, Todd Chapman, a Washington, revelando as rotas de narcotráfico em Moçambique. Os telegramas do então chefe da missão diplomática dos EUA em Moçambique, apontam figuras como Armando Guebuza, Joaquim Chissano, Luísa Diogo, Aiuba Cuereneia e o director-geral das Alfândegas, Domingos Tivane, como estando envolvidos no narcotráfico.
As revelações vem contidas em menos de meia dúzia de documentos, de mais de novecentos que a Wikileaks tem sobre Moçambique e que poderão começar a ser divulgados em catadupa. Informações em poder do Canalmoz sugerem que nos documentos ainda por descartar são descritos cenários que desacreditam as eleições que até aqui se realizaram no nosso País.
Guebuza é Chefe de Estado, chefe do Governo e Comandante-em-chefe das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique, para além de ser o presidente do Partido Frelimo, no poder desde a Independência Nacional.
Joaquim Chissano é presidente Honorário da Frelimo. Foi presidente da República durante 17 anos.
Luísa Dias Diogo, até Janeiro do corrente ano foi Primeira-ministra, é membro da Comissão Política do Partido Frelimo e deputada à Assembleia da República.
Aiuba Cuereneia é ministro do Plano e Desenvolvimento e membro da Comissão Política da Frelimo.
A informação contida nos despachos da Embaixada Americana em Maputo, ora divulgados, consubstancia o que no dia 01 de Junho do corrente ano, o presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, por via doDepartamento do Tesouro, aprovou e mandou publicar sobre o empresário Mohamed Bachir Suleimane do Grupo MBS. Colocou-o na “lista um” dos maiores barões de droga do mundo que impede qualquer negócio com este assumido patrocinador da Frelimo.
Os telegramas enviados pelo então encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos da América em Maputo, Todd Chapman – um deles datado de 28 de Setembro do ano passado – a Washington, foram revelados do polémico website da Wikileaks, e ontem tornados públicos por vários jornais europeus.
A publicação destes telegramas ocorre dois dias após a detenção de Julian Assange, o fundador da Wikileaks, em Londres. Entregou-se à Polícia. Os seus pares na Wikileaks já tinham informado que a prisão de Assange não iria impedir a organização de continuar a publicar mais conteúdos confidenciais, que nos últimos dias deixaram a diplomacia americana de joelhos e boquiaberta.
Coube ao prestigiado Le Monde, jornal que se edita em Paris, divulgar ontem, em primeira mão, os primeiros telegramas sobre Moçambique, ou como diz Guebuza, a “pérola do Índico”.
Os telegramas referem que em Moçambique o poder político ao mais alto nível está comprometido com o narcotráfico.
Os despachos confidenciais da embaixada norte-americana em Maputo, divulgados pelo portal Wikileaks, referem objectivamente que o presidente Guebuza e o seu antecessor, Joaquim Chissano, são cúmplices das actividades do narcotráfico.
Mas nem tudo eram old news (velhas notícias), nesses telegramas diplomáticos enviados a partir do edifício da Kenetth Kaunda, onde se situa a sede da embaixada americana em Maputo.
As alegações vão desde, por exemplo, que o Presidente da República, Armando Emílio Guebuza, terá facturado, como comissão, entre 35 e 50 milhões de dólares com o negócio da reversão da Hidroeléctrica do Songo, em Tete, a tal que quando conseguiu convencer o primeiro-ministro português José Sócrates a ceder a maioria do capital social “a Moçambique” Guebuza disse “Cahora Bassa já é nossa!”....
Moçambique é segundo “narco-Estado” em África
Nos telegramas diplomáticos da embaixada norte-americana em Moçambique fala-se de um “narco-Estado corrupto”.
É o segundo país mais importante na rota do narcotráfico, a seguir à Guiné-Bissau, lê-se num dos telegramas.
Os telegramas referem ainda que a cocaína vem do Brasil, o haxixe do Paquistão, e a heroína do Afeganistão e “são drogas que alimentam o mercado sul-africano, ou seguem para a Europa utilizando Moçambique como base”.
Moçambique “não é um completo narco-Estado corrupto, mas segue em uma direcção inquietante”, destaca o diplomata Todd Chapman no telegrama.
Chapman tem sido referenciado como estando actualmente no Afeganistão o que pode levar a pressupor que ande a investigar outros segmentos da rede.
Todd deixou Moçambique este ano. Foi, durante o primeiro mandato de Guebuza, a principal figura americana em Maputo. Tinha o estatuto de Encarregado de Negócios.
Escreve o jornal francês Le Monde citando a correspondência revelada pelo Wikileaks, que em Moçambique operam duas grandes redes de narcotráfico, respectivamente lideradas por dois moçambicanos de origem asiática: Mohamed Bachir Suleimane (MBS) e Ghulam Rassul Moti. Ambos iniciaram as suas carreiras em Nampula.
“As acções destes dois homens seriam impossíveis sem a cumplicidade do Estado”, diz o diplomata nos telegramas.
MBS é referido como estando directamente ligado ao presidente Armando Guebuza. Baptizou uma praça no seu shopping como “Guebuza Square”. “Contribuiu para financiar a Frelimo e ajudou significativamente nas campanhas eleitorais dos dois políticos”, Guebuza e Chissano.
Nos telegramas expedidos por Chapman para a administração Barack Obama, vem referido que a administração do Porto de Nacala, célebre por permitir a passagem de droga proveniente do sudeste asiático, foi entregue a Celso Correia, presidente executivo da Insitec, uma empresa que de fachada é do “miúdo”, mas que é tido como sendo efectivamente de Guebuza.
Ainda de acordo com os documentos, a polícia e os funcionários dos serviços de Migração recebem garrafas de vinho para fecharem os olhos e permitirem a entrada das drogas em Moçambique.
Guebuza e a acumulação de riqueza
Nos referidos telegramas, agora na posse do Canalmoz, Todd Chapman cita, várias vezes, uma fonte anónima, que lhe terá garantido que o actual PR está no processo irreversível de acumulação de capitais e que para lograr sucessos, Guebuza terá montado dois “testas-de-ferro”, nomeadamente Salimo Abdula, Presidente da CTA e PCA da Vodacom (onde Guebuza tem interesses) e Celso Correia, PCA do grupo Insitec e PCA do BCI.
Celso Correia, a caminho dos 30 anos, é descrito como “leal a Guebuza”, apesar de não ter nenhuma experiência, ou diploma universitário.
Os interesses empresariais do PR foram mapeados nos telegramas que a Wikileaks acaba de divulgar. São descritas as suas participações no Moçambique Gestores (MG), Maputo Port Development Company (MPDC), no porto de Maputo, Focus 21, Navique, Vodacom, e Sasol. Os telegramas indicam que Guebuza também tem interesses na Maputo Corridor Logistics Initiative (MCLI), uma firma
que controla a estrada com portagem (N4), de Maputo a Witbank, na África do Sul.
Ainda de acordo com a fonte Guebuza tem acções significativas na banca através do BCI, Capitais Moçambique, Moza Banco, e a Geocapital.
Através de membros da família, Guebuza também controla Intelec Assessoria e Consultoria Empresarial, Terminal de Grãos da Beira, MBT Construção, Ltd., Englob Consultants Ltd., Power Moçambique Industries, Ltd., Macequece e Moçambique Recursos Naturais.
A fonte de Chapman em Maputo, que lhe garantiu ser próximo do PR, tê-lo-á informado que Guebuza também tem uma paixão pela indústria dos jogos. Essa paixão “guebuziana”, de acordo com a fonte de Chapman, terá levado o PR a forçar o Conselho Constitucional (CC) a rever e declarar uma lei recente de liberalização do sector do jogo como “Constitucional”.
Esta semana, na terça-feira, saliente-se, o Conselho de Ministros aprovou uma lei que reserva para o Estado todos os casinos que se venham a licenciar daqui em diante, mas os que já estão a funcionar mantém-se.
MBS e as propinas para o partido Frelimo
Os telegramas referem que MBS paga uma espécie de propinas ao partido Frelimo. São indicadas as figuras do mundo empresarial que pagam propinas ao partido Frelimo. O ex-presidente Joaquim Chissano e Manuel Tomé, ex-secretário-geral da Frelimo, de acordo com os telegramas terão sido vistos algumas vezes “nos escritórios de MBS a receberem luvas abertamente”. O director-geral das Alfândegas, Domingos Tivane, cujo filho se casa hoje e oferece um copo d’água, às 14 horas, no HotelPolana, é referido como quem recebe ordens directas de MBS de quem recebe pagamentos.
O banheiro da casa de Tivane, de acordo com a fonte de Chapman, “tinha ouro sólido”.
Os telegramas referem que a ex-primeira-ministra, Luísa Diogo, é colectora de subornos para o partido Frelimo, de quem recebe “percentagens”.
Nos portos, de acordo com os telegramas que a Wikileaks acaba de expor, a Frelimo tem o seu próprio agente de compensação que trata dos negócios do partido e do MBS. O papel desse agente é “limpar facturas” e evitar o pagamento do imposto de IVA, de 17%. Já a Tivane cabe o papel de ignorar a digitalização desses documentos.
Lavagem de dinheiro
Os telegramas referem que MBS e os “vendedores de Nacala” todos têm escritórios em Dubai “para facilitar as operações de lavagem de dinheiro no país”.
É por meio dessas operações, segundo consta nos telegramas que, após 15 anos de actividade em Moçambique, o MBS foi capaz de pagar cerca de 30 milhões de dólares em dinheiro para estabelecer o Maputo Shopping Center, inaugurado em 2007.
De recordar que na sexta-feira da semana passada, foi detido, na vizinha Swazilândia, um outro empresário, Momed Ayoob, na posse de 18 milhões de Rands que pretendia levar para Dubai.
Proprietário da Home Center traficante protegido por Aiuba Cuereneia
O ministro da Planificação e Desenvolvimento, Aiuba Cuereneia, é outra figura citada nos telegramas do diplomata norte-americano como sendo facilitador de entrada de contentores de droga em Moçambique, sem fiscalização.
O ministro Cuereneia, também originário de Nampula, segundo os telegramas de Chapman, protege as mercadorias do dono da Home Center – uma grande empresa de venda de mobiliários sedeada em Maputo. O proprietário da Home Center é identificado nos documentos publicados no Wikileaks, pelo nome de Ahmed Gassan, e referido como um imigrante de origem asiática, que, sob capa de importação de mercadorias, introduz droga no território moçambicano.
A banca moçambicana sobrevive com tráfico
Num outro telegrama que o diplomata americano enviou a Washington, Chappman alega que num país pobre como Moçambique, não se explica que haja mais de uma dezena de bancos a operar plenamente e mais de 30 casas de câmbio, devidamente licenciadas. Defende, portanto, que o narcotráfico é o “motor da economia moçambicana” e que o dinheiro que faz sobreviver tantas instituições financeiras em Moçambique é fruto de tráfico de drogas em grande escala.
(Luís Nhachote)
CANALMOZ - 10.12.2010
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