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Thursday, June 3, 2010

Seleção arrasta multidão em Soweto e paga dívida



Apoteótica a ida da seleção brasileira a Soweto neste dia de Corpus Christi. A caminho do estádio com amigos, por acaso encontramos o ônibus da delegação ao entrar no bairro. Espetáculo inesquecível mesmo para os mais experimentados e de coração mais duro.

As motos dos batedores, as dúzias de carros de polícia, sirenes ligadas, os policiais de metralhadoras -absolutamente dispensáveis- à mostra serviram ao menos para anunciar a chegada.

O que se viu foram mulheres com crianças de colo, jovens, homens de todas as idades, uma multidão enlouquecida ao longo das calçadas e ruas poeirentas, a acenar para qualquer carro, qualquer um que fosse ou parecesse ser da comitiva.

O Brasil devia essa visita a Soweto, à África. Dunga esteve com Nelson Mandela em fevereiro, mas o time, pelo menos algum dos jogadores, estava em dívida com o bairro símbolo da resistência ao apartheid.

Há um ano o Brasil jogou e venceu na África do Sul a Copa das Confederações. Então, treinou em Soweto, no estádio do Orlando. Apenas treinou, e, em Johannesburgo ao contrário de Bloemfontein, sempre de portões fechados.

O estádio do Orlando, a poucos quilômetros do impactante Museu da Consciência Negra. Nem assim uma visita, mesmo que de apenas um jogador.

Se dirá que a seleção não tinha, não tem nenhuma obrigação com a história de Soweto, da África do Sul, da África. Que tinha, e tem, compromissos importantíssimos que exigem, e exigem mesmo, concentração, foco absoluto.

É uma maneira de ver as coisas, mas há outras. A inexistência de compromissos formais, oficiais, não impede que cada um, ou um grupo, se imponha compromissos morais.

Em 94, por exemplo, a seleção chegou e saiu dos Estados Unidos com um compromisso, além do maior, de ganhar a Copa. O compromisso de homenagear, honrar um herói nacional, Ayrton Senna. E o fez minutos depois de vencer a Copa.

O compromisso agora não é, não deveria ser, com um bairro de negros ou de brancos, mas com uma história que todo o mundo conhece, ou deveria conhecer. No mínimo pela origem inegável, ainda que perdida no tempo, de tantos dos rapazes do Brasil.

Pela segunda vez em 48 horas os brasileiros da seleção puderam sentir de perto a profunda admiração da África pelo futebol brasileiro, por extensão pelo Brasil.

Há quem desdenhe, mas isso não é pouco. No século XX, antes até do desembarque de fuzileiros, com Hollywood na primeira metade, com astros da cultura pop e do esporte à frente nos últimos 50 anos, os Estados Unidos ganharam corações e mentes mundo afora.

Na quarta-feira, pelas ruas de Harare, a seleção foi saudada por milhares de africanos do Zimbabwe, muitos com a camisa amarela. E foi ovacionada no estádio.

Um dia depois, festa nas arquibancadas do Dobson Ville, euforia pelos becos e vielas de Soweto. O treino de portões abertos desta quinta é daqueles obrigatórios da FIFA, mas ao fazê-lo em Soweto, por obrigação ou não, a seleção beneficiou também a si mesma.

Ao ir a Soweto, a seleção amplia a simpatia dos sul-africanos pela seleção, pelo Brasil; não pela pátria dos constrangedores discursos oficiais, mas pelo ente multicultural que habita o imaginário mundo afora.

Ao ir a Soweto, ao menos passar de passagem por suas ruas e arrastar atrás de si uma multidão, ao ouvir a paixão que vem das arquibancadas, a seleção brasileira se alimenta do que pode haver de mais belo e nobre no futebol. Na vida.




Fotos de Reinaldo Marques/Terra
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