Canal de Opinião
por Manuel Araújo
É com inusitado interesse que observo as movimentações políticas e diplomáticas de Armando Emílio Guebuza! Me parece que registou-se uma mudança na sua forma de actuar. E como sempre das duas uma: ou se trata de gestos genuínos resultados de um crescimento genuíno da parte do chefe do Estado e sua equipa de estrategas ou então estamos perante um xadrezista nato.
Explico-me: Nos últimos tempos Guebuza e sua equipa tem sabido jogar com mestria as suas cartadas, dando autênticos “KO’s técnicos” à oposição quando lhe interessa. E esta, na sua miopia tem caído nas armadilhas de Guebuza que nem patos!
Senão vejamos:
Durante o processo eleitoral, quando Guebuza se apercebeu do perigo que o MDM e Daviz Simango representavam, urdiu uma estratégia visando limitar o MDM e Daviz. E para alcançar esse objectivo pediu ajuda a Dhlakama e à Renamo. Solicitamente Dhlakama aceitou a encomenda envenenada pensando que tinha um aliado!
Alcançado o objectivo de amputar Daviz e o MDM, Guebuza avança para a segunda tacada ao ordenar ao Conselho Constitucional para considerar improcedente a iniciativa da Renamo de mandar cessar os seus ex-deputados na AR, que por deliberação da Comissão Permanente havia decidido que os seus ex-deputados que se filiaram no MDM haviam perdido o mandato. Contenta assim o MDM.
Quando a Renamo decidiu não tomar posse, estava claro que os deputados do MDM tomariam. Caso passassem os 30 dias sem que estes deputados tomassem posse tomariam os seus suplentes e caso os suplentes não tomassem, o MDM passaria a oposição oficial!
Dhlakama se esqueceu que o factor MDM obriga a 'certas flexibilidades' e seu comportamento já não pode guiar-se ou ter como referências um passado recente onde o sistema era bipolar!
E foi o que se viu! A rebelião interna, liderada pelo Círculo Eleitoral da Zambézia e a consequente tomada de posse dos restantes deputados pois tendo perdido Sofala para Daviz e o MDM, e com Nampula solidamente com Guebuza e com a Frelimo, Dhlakama não poderia sobreviver sem a Zambézia, sua última tábua de salvação!!
Não foi por acaso que Dhlakama teve que engolir em seco a 'rebelião zambeziana', e aceitar as 'imposições deste círculo eleitoral': Vice-Presidencia da AR, a Comissão das Relações Internacionais, e os relatores de todas as comissões! Se Dhlakama seguisse o mesmo critério que usou quando Daviz se rebelou, teríamos uma bancada da Renamo independente do seu lider, do mesmo jeito que vimos que a expulsão de Daviz levou à criação do MDM. Não nos esqueçamos que o regimento da AR reza que mais de 11 deputados podem formar bancada!
Encurralado e humilhado, e perante a possibilidade de ter uma bancada independente, Dhlakama não podia expulsar os deputados rebeldes! A única saída que tinha para manter algum poder era mandar os outros deputados tomar posse (caso contrário estes tomariam à sua revelia) pois aproximava-se a sessão que elegeria os membros das comissões, suas chefias e os vice-presidentes da AR. Se os leais deputados de Dhlakama não tomassem posse, a liderança da bancada ficaria com os 'rebeldes'! E a solução foi uma negociação e enxertia dos leais deputados nos órgãos de decisão: Gania Mussagy, eleita pelo Círculo Eleitoral de Inhambane, na Comissão Permanente; Angelina Enoque, eleita pelo Círculo Eleitoral de Manica na chefia da bancada; e Macuaiana, também eleito pelo Círculo Eleitoral de Manica, como relator da bancada!
A rebelde de Nampula, ficou com a chefia da Comissão de Defesa! Com quem ficou o poder efectivo na bancada da Renamo na AR? Com os rebeldes ou com os leais? Os próximos tempos nos dirão.
Acto continuo, Guebuza joga a terceira tacada: sabendo que Dhlakama não viria, decide convidar os dois candidatos mais votados à Ponta Vermelha. Como era de esperar Dhlakama não vai e Daviz se apresenta! Com esta jogada de mestre, Guebuza atira para o tapete Dhlakama, pois circulava em várias chancelarias Ocidentais a acusação de que Guebuza não era democrata pois no mandato anterior não mantivera encontros de cortesia com o líder da oposição! Uma acusação que pesava nas contas das chancelarias tanto em Maputo como nas capitais ocidentais por onde tenho passado!
Que o seu objectivo é recuperar a Beira é. Para provar isso a Frelimo não cede, por enquanto (?) à exigência mais do que justa do MDM de exigir uma bancada parlamentar, plataforma segura para lançar novos reptos! Que preço exigirá a Frelimo para dar em troca a bancada que o MDM desesperadamente necessita para sobreviver?
Entretanto, o Secretario Geral da Frelimo, Filipe Paunde não perde a oportunidade para mostrar que os apetites da sua formação política não estão saciados e anuncia que o objectivo essencial é instalar a Frelimo no Município da Beira, onde governa Daviz Simango!
O Dilema de Dhlakama
Se fosse ao almoço, antes de organizar as ditas manifestações cairia no ridículo, pois estaria a mostrar ao seu eleitorado que é um faminto! Se não fosse, estaria a dar a Guebuza o pretexto que há muito procurava: Que a culpa da não convivência não era sua mas, sim, do próprio Dhlakama! 'Que até para provar convidei-o e não apareceu!' Querendo, Daviz apareceu!
O Golaço de Daviz
Ao aceitar o jantar com Guebuza, Daviz Simango e o MDM marcaram um golaço, ao serem de facto a oposição oficial. Ou seja ao aceitar almoçar na Ponta Vermelha, Daviz passou a ser o 'Líder da Oposição Oficial', a sua esposa a 'Segunda Dama Oficial, o MDM a 'Segundo Partido Oficial' e Dhlakama, Dona Rosaáia e a Renamo passaram a ser a oposição de facto!
Com este ensaio, Guebuza pode, querendo, convidar Daviz a jantares, encontros com diplomatas, individualidades estrangeiras e quiçá até convidá-lo a fazer parte de banquetes e Visitas de Estado ao exterior, deixando Dhlakama em terra, fragilizando-o interna e externamente!
Ao não falar à comunicação social depois do almoço, Guebuza, das duas uma, ou marcou um auto-golo, ou então ofereceu um golaço a Daviz. Se ofereceu tal golaço qual é o preço? Como se viu, a comunicação social fez as suas manchetes com Daviz, que passou a ser o porta-voz oficial do jantar. A única voz autorizada a falar ao povo moçambicano sobre o conteúdo do jantar! O maior presente para Daviz e o MDM seria que Guebuza mandasse autorizar a mudança do regimento e deixasse que o MDM formasse bancada! Poderá Guebuza arriscar a tanto? Terá Davis conseguido convencer Guebuza a engolir a isca? Os próximos tempos dirão!
Qual será a próxima tacada de Guebuza? E quando é que os dois líderes da oposição acordarão para perceber que a sobrevivência de cada um deles e da oposição no geral depende deles e não de Guebuza? Quando é que Daviz e Dhlakama vão perceber que estão a ser usados um contra o outro para benefício de outrem? E para a destruição da democracia em Mocambique? (Manuel de Araújo)
CANALMOZ – 02.02.2010
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