Nairobi, 01 Jan (Lusa) - O presidente da comissão eleitoral do Quénia (ECK), Samuel Kivuitu, afirmou hoje ter sido pressionado a anunciar a reeleição do Chefe de Estado cessante Mwai Kibaki, no escrutínio seguido de violência inter étnica que fez mais de 300 mortos.
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Kivuitu afirmou que membros da missão da observação da União Europeia (UE) e da comissão nacional dos Direitos Humanos queniana queriam que o anúncio dos resultados fosse adiado uma semana para que pudessem ser examinadas as queixas de irregularidades.
Mas, adiantou Samuel Kivuitu, tanto o Partido de Unidade Nacional (PNU, no poder), como a oposição (Movimento Democrático Laranja (ODM), de Raila Odinga), pretendiam que os resultados fossem divulgados de imediato.
"Queria demitir-se, mas pensei que se o fizesse os cidadãos pensariam que tinha medo. Por isso decidi enfrentar o problema até ao fim", afirmou à imprensa, em Nairobi.
"Fui pressionado por todos os quadrantes (...) então tomei uma decisão assim que pude", disse.
O presidente do ECK proclamou vencedor das eleições o Presidente cessante Mwai Kibaki, apresar das queixas, segundo as quais o PNU cometeu irregularidades eleitorais, provocando motins e violência inter étnica que mataram mais de 300 pessoas desde quinta-feira.
Hoje, uma multidão enfurecida incendiou uma igreja onde se encontravam mais de 50 pessoas, que foram queimadas vivas, em Eldoret, oeste do país, segundo um voluntário da Cruz Vermelha.
De acordo com a Cruz Vermelha, que hoje realizou uma conferência de imprensa, os confrontos no oeste do país já causaram mais de 70 mil refugiados.
O assassínio de cerca de 50 "Kikuyus" da cidade de Eldoret, a some 300 quilómetros de Nairobi, elevou o número de mortos, dos últimos quarto dias, a cerca de 300, aumentando o receio de que o pior poderá estar ainda por vir.
"Eles incendiaram a igreja", disse George Karanja, cuja família procurou abrigo juntamente com outras 2.000 pessoas.
Karanja, 37 anos, disse ter conseguido tirar da igreja pelo menos 10 pessoas, mas não conseguiu salvar o filho da irmã, de 11 anos.
O Presidente Mwai Kibaki, que rapidamente tomou posse, domingo, para um segundo mandato pediu uma reunião com a oposição, amenizando o tom dos últimos dias O líder da oposição, Raila Odinga, recusou, afirmando que só se reunirá com Kibaki "se ele anunciar que não foi eleito".
A violência - que se propagou desde os "bairros de lata" de Nairobi às estâncias turísticas da costa veio expor ressentimentos tribais que há muito fervilham no Quénia.
As pessoas mortas em Eldoret eram membros da tribo "Kikuyu" de Kibaki. Os "Kikuyus", maior grupo étnico do Quénia são acusados de dominarem a política e os negócios do país.
Odinga pertence à tribo "Luo", mais pequena, apesar de importante, que afirma ter sido marginalizada.
A perspective de mais violência avizinha-se com o plano de Odinga marchar, quinta-feira, com um milhão de pessoas, nas ruas da capital, para protestar contra a proclamação de Kibaki.
O governo proibiu a manifestação, mas Odinga manteve o protesto, afirmando: "Não interessa o que eles dizem".
Segundo a delegação de observadores da União Europeia, quase todas as irregularidades detectadas beneficiaram o partido de Kibaki, que tomou posse menos de uma hora depois de ter sido anunciada a sua reeleição.
Os resultados oficiais deram a Mwai Kibaki 4.584.721 votos (46,38 por cento) e 4.352.993 votos (44,03 por cento) ao líder da oposição, Raila Odinga.
Para a oposição, Kibaki foi reeleito presidente graças a um milhão de votos fraudulentos.
MV
Lusa/Fim
© 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.
2008-01-01 21:25:01
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