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Wednesday, December 5, 2007

Sudão: Políticas do governo conduzirão ao desaparecimento do cristianismo - bispo auxiliar de Cartum

Lisboa, 05 Dez (Lusa) - As políticas do governo sudanês conduzirão a prazo ao desaparecimento do cristianismo do Sudão, considera o bispo auxiliar de Cartum, adiantando que isso o leva a questionar a unidade do país defendida pela comunidade internacional.
"Não existem abusos directos, uma afronta directa aos cristãos, mas as políticas aplicadas levam a que cristianismo vá morrendo aos poucos até acabar", declarou à agência Lusa D. Daniel Adwok, de 55 anos, em visita a Portugal.
Segundo o bispo auxiliar de Cartum, "o governo diz que não parará de tentar islamizar a sociedade e que só defenderá a religião islâmica", pelo que "não existem hipóteses de desenvolvimento para a cultura e a religião" cristã.
"Isto leva-nos a pensar que um dia o cristianismo desaparecerá do Sudão e assim também a questionar a unidade do país defendida pela comunidade internacional. Se a unidade do país actualmente representa a islamização do povo do sul talvez seja melhor não haver unidade", disse.
De acordo com o bispo, cerca de 20 por cento dos sudaneses são cristãos, numa população que a ONU estimava em 37 milhões em 2006, e estão concentrados sobretudo no sul do país. Setenta e cinco por cento dos habitantes são muçulmanos.
D. Daniel Adwok explicou que "é muito difícil para os cristãos conseguirem trabalho no Estado ou em empresas relacionadas", que "os cristãos não têm tempo de antena na rádio ou televisão" e que o governo não tem programas para as comunidades cristãs.
Nas escolas a religião cristã não pode ser ensinada, mas os livros escolares "têm muitas referências" à religião islâmica, "mesmo os de história", adiantou.
"Só este ano, pela primeira vez em 40 anos, deram um terreno para construir uma igreja em Cartum", disse.
"Não podemos desenvolver as nossas instituições para que o modo de pensar cristão possa influenciar a sociedade sudanesa, não temos essas instituições", lamentou D. Daniel Adwok, adiantando, por outro lado, que "os cristãos já viram que existem diferenças no desenvolvimento económico em relação aos muçulmanos e que o governo não encoraja os cristãos a terem nada".
Ordenado bispo auxiliar da Arquidiocese de Cartum em Fevereiro de 1993, D. Daniel Adwok esteve os 16 anos anteriores ao serviço da diocese de Malakal no sul do Sudão.
"Não é algo que se detecte imediatamente, mas vai afectando lentamente", insistiu, afirmando que "o governo não quer ser visto pela comunidade internacional como estando a afectar os cristãos".
O bispo auxiliar de Cartum não se queixa de falta de liberdade de movimentos ou até de expressão, mas assinala que as iniciativas da Igreja não são noticiadas pelos meios de comunicação social.
"Já escrevemos por diversas vezes ao presidente, a última em Julho, defendendo o diálogo com os rebeldes (do Darfur) ao invés do uso da força, mas isso nunca apareceu na imprensa", contou.
Referiu ainda que existe no Sudão um Ministério do Planeamento Social que tem um departamento para os assuntos religiosos.
"Recebem-nos, mas não ligam ao que dizemos, mas por exemplo se vêm dignatários estrangeiros convidam-nos para estar lá, para publicidade", acusou.
Segundo D. Daniel Adwok, "o Sudão é considerado pelo mundo árabe como a linha da frente da islamização em África, a sul do Saara", sendo esta a política seguida pelo governo.
Por isso também, "o governo do Sudão só quer ver os pobres apoiados por organizações islâmicas ou de países muçulmanos".
"A presença das organizações ocidentais, sobretudo dos países católicos, só é tolerada e são monitorizadas para que não haja sinais de filiação religiosa", disse.
A Igreja católica trabalha, por exemplo no Darfur (oeste), através de organizações humanitárias como a Caritas, que tem programas de ajuda ao nível da comida, educação e saúde, adiantou.
"Mas temos de ter cuidado para não manifestar sinais que possam ser vistos de algum modo como proselitismo", disse o bispo auxiliar de Cartum.
D. Daniel Adwok referiu igualmente que "existem radicais no partido do governo que querem apressar a islamização do país", situação que o leva a declarar não ter ficado surpreendido com o facto de alguns terem pedido a execução da professora britânica condenada no Sudão por insulto ao Islão.
Gilliam Gibbons, entretanto indultada e que já chegou a Londres, foi condenada a 29 de Novembro a 15 dias de prisão no Sudão por ter deixado que os seus alunos de seis e sete anos dessem o nome de Maomé a um urso de peluche, o que foi considerado uma referência ao profeta muçulmano, cuja representação, de qualquer espécie, está proibida pelo Islão.
Um dia após a sentença, centenas de pessoas manifestaram-se em Cartum contra a clemência da punição e exigindo a sua execução. Gibbons, de 54 anos, foi então transferida para uma localização secreta, para evitar riscos de linchamento popular.
"A atitude destas pessoas (os radicais) não foi uma surpresa para mim. Há cinco ou seis meses mataram um jornalista, um muçulmano, por causa de uma citação de Maomé. E o governo perdoa-os", comentou D. Daniel Adwok.
O bispo auxiliar de Cartum iniciou sexta-feira uma visita de 10 dias a Portugal a convite da Fundação Igreja à Igreja que Sofre, instituição dependente do Vaticano.
"(A Fundação) faz 60 anos este ano. A minha vinda é o reconhecimento do que têm dado à Igreja neste período, o apoio às pessoas, às crianças, na educação e na saúde. A nossa gratidão é para eles e para quem os ajuda, o povo português que contribui para o que eles fazem", declarou D. Daniel Adwok.
Além de cerimónias religiosas em Lisboa, Porto e Fátima e encontros com diversos responsáveis da Igreja, a agenda do bispo auxiliar de Cartum inclui a participação na apresentação dos livros "Por causa do meu nome. Perseguição aos cristãos nos dias de hoje", do jornalista alemão Reinhard Backes, e "Sudão não fechar os olhos", de Octávio Carmo, da agência Ecclesia.
D. Daniel Adwok, cuja visita foi programada para coincidir com a cimeira UE-África este fim-de-semana em Lisboa, participa ainda noutras iniciativas, nomeadamente conferências, da Plataforma portuguesa por Darfur, de que faz parte a Fundação, para lembrar o drama nesta região sudanesa na semana que antecede o encontro dos líderes europeus e africanos.
PAL.
© 2007 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.2007-12-05 15:45:03

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