No Bairro de Benfica, em Maputo
Os moradores do bairro e outros cidadãos utentes do posto que estava em obras contestam a usurpação das infra-estruturas de saúde pelo partido liderado por Armando Guebuza
O partido Frelimo está a usurpar instalações que funcionavam como posto médico, no bairro George Dimitrov (Benfica).
Transformou-o em sede do partido. A situação está a provocar ira da população local que não compreende por que razão uma unidade de saúde deve ceder o espaço a actividades político-partidárias.
O posto de saúde em referência está situado na Rua de Aeronáutica Civil, junto de um mercado informal. É um posto de saúde comunitário, operado por particulares, e praticava preços acessíveis à comunidade local.
Segundo apurámos no local, as instalações, onde funcionava o centro de saúde, foram construídas no período colonial. Os serviços de saúde que ali se prestavam eram operados por privados, desde há anos. Muito recentemente a unidade sanitária fechara as portas para beneficiar de reabilitação e ampliação, quando, antes de serem concluídos os trabalhos, o seu proprietário faleceu.
Com a morte de quem explorava o centro de saúde, o partido Frelimo, localmente, apoderou-se das instalações para transformá-las em sua sede local.
A reportagem do Canalmoz constatou, no local, que está içada uma bandeira do partido no poder. Falámos com algumas pessoas que nos disseram que antes havia a insígnia que simboliza um posto médico (uma cruz vermelha), mas que já foi retirada pelos novos exploradores do espaço, a Frelimo. De igual modo, o painel luminoso, que indicava ser aquele local um posto médico, foi retirado faltando só colocar outro painel com indicação de que é sede local da Frelimo.
População prejudicada
Os moradores vizinhos desta unidade sanitária, que são milhares, esperavam que ao ser concluída a sua reabilitação este reabrisse para dar assistência.
Enganaram-se.
A esperança de um bairro populoso como Benfica vir a ter um posto de saúde com mais qualidade e capaz de providenciar tratamentos de determinadas enfermidades foi frustrada.
Contaram-nos alguns entrevistados que com o encerramento definitivo da unidade sanitária de que estamos a falar, os moradores deste Bairro e outros que se serviam do posto terão de se deslocar ao Centro de Saúde de Bagamoio, ou, então, ao Centro de Saúde de Zimpeto. Eles opinaram que qualquer das unidades sanitárias, quer a de Baganoio, quer a do Zimpeto não conseguem responder à demanda, em termos quantitativo, para além de ambas se localizarem noutros bairros distantes de "Benfica".
Os residentes de "Benfica" não concordam com a atitude do Comité do Círculo da Frelimo. Estão contra o facto deste se ter apoderado de uma infra-estrutura social para prosseguir fins politico-partidários.
A contestação
"Não devia ser assim. O Governo devia, com a morte da pessoa que estava a reabilitar o local, lançar um concurso a ver se poderia aparecer uma outra pessoa interessada em prosseguir com a actividade, porque a população está interessada num hospital aqui perto, por mais que seja privado", disse Bento Tímóteo, residente na zona de "Volante Seis". Aquele munícipe disse ainda que a Frelimo devia rever a posição que tomou, pois "não se entende que sejam os governantes a relegarem para segundo plano a saúde das pessoas, para beneficiar um partido".
Outra contestação veio de Artur Cossa, que colocou a sua opinião nos seguintes termos: "parece que eles, ao ficarem doentes, não precisam de um hospital. Tomaram o posto médico de assalto como na altura das nacionalizações. É mau. Estávamos satisfeitos com a vinda de mais um posto de saúde que se viesse a funcionar à noite. Seria uma grande ajuda para os doentes que, por essas alturas, precisassem de assistência de um médico", disse o nosso entrevistado, que fez coro com tantos outros que não quiseram
dar a cara. O eterno medo de falar. O eterno medo das represálias.
Muito outros cidadãos contestam a instalação de uma unidade partidária onde era um posto de saúde. Ainda não conseguimos colher a reacção do partido Frelimo localmente. Aguardamos, a qualquer momento, que o Comité da Frelimo nos dê a sua versão do que se está a passar. Já contactámos os responsáveis do partido a nível deste bairro, mas ainda não houve reacção. (Alexandre Luís)
CANALMOZ – 05.07.2010
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