Monday, February 1, 2010
Renamo em decadência - diz Máximo Dias, considerando que Afonso Dhlakama tem maus conselheiros e defende uma Frelimo humilde
MÁXIMO Dias, secretário-geral do Movimento Nacionalista Moçambicano (MONAMO) considera que a Renamo, o maior partido da oposição nacional está em decadência, muito embora reconheça que o seu líder, Afonso Dhlakama, ainda possui uma base de apoio expressiva. Todavia, o nosso entrevistado afirmou Afonso que Dhlakama “tem maus conselheiros”. Numa longa entrevista de avaliação da situação politica do país no ano findo e as perspectivas que se desenham para o ano em curso, aquele político acha também que a Frelimo deve ser “humilde” se quiser contribuir para a consolidação da democracia no país, aceitando os pontos de vista das outras correntes políticas e de opinião nacionais.
Maputo, Segunda-Feira, 1 de Fevereiro de 2010:: Notícias
NOTÍCIAS (NOT) – Como avalia o ano de 2009?
MÁXIMO DIAS (MD) – Naturalmente que para fazer a avaliação de um ano terei que ter em conta aspectos positivos e negativos. Começaremos com os negativos para podermos acabar bem com os positivos. O aspecto negativo mais marcante é a pobreza absoluta que assola a maioria do nosso povo. Ainda não dá indícios de uma grande melhoria. Poderá dizer-se que com as escolas, com a formação académica o cidadão fica minimamente preparado para vencer mas, mesmo assim, ainda somos poucos. Ainda somos poucos com acesso à escola, de obter conhecimento para poder ser o pequeno empreendedor. A nossa pobreza absoluta só se combaterá se cada moçambicano na fase, mesmo de adolescência, ter capacidade para ser pequeno empreendedor. Pequeno de acordo com as suas capacidades financeiras, mas com as capacidades económicas do local onde está inserido. O exemplo disso são as “mukheristas” que vivem aqui em Maputo que vão para África do Sul e Suazilândia com cinco ou dez mil meticais para comprarem produtos que depois vêm revender e ganham quinhentos ou mil meticais. Por mês fazem dois mil ou quatro mil meticais, o que dá um vencimento mínimo. Sobrevivem com esse dinheiro que é quase vencimento mínimo. O desempenho do Presidente Guebuza para mim, no cômputo geral, foi positivo. Mesmo no combate à corrupção ele deu sinais positivos. Temos ex-ministros presos; ministros arguidos em processos-crimes; presidentes de Conselhos de Administrações de empresas públicas também presos e arguidos em processos.
NOT – Mas politicamente que aspectos marcantes pode assinalar?
MD – Na arena política foi um ano de eleições, complementando as eleições de 2008, as eleições autárquicas. Neste sufrágio tivemos uma estrela candente, que foi o Daviz Simango, que venceu a única autarquia que não foi ganha pela Frelimo – o município da Beira. Parecia que Daviz Simango seria a pessoa que poderia constituir uma força alternativa ao imaginário político moçambicano. De um lado a Frelimo, do outro lado a Renamo que, em cada ano que passa, está cada vez mais decadente, em termos práticos e de implantação. Portanto, estávamos à espera que o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) desse sinal da sua vitalidade. Sem sombra de dúvidas que deu um pequeno sinal de oito deputados. É precisamente na questão da organização e realização das eleições gerais que eu quero dizer que considero negativa a acção da Comissão Nacional de Eleições (CNE) que, apesar de reconhecer que houve enchimento de urnas não anulou nem repetiu nenhuma eleição. Dizer que o enchimento de urnas, anulação propositada de votos válidos por parte dos membros das mesas de assembleias de voto através de rasuras e outro tipo de maldades, entre outras irregularidades, não teve influência no resultado final não basta. Estas acções deveriam ter consequência para quem as praticou, para evitar acções semelhantes no futuro. Efectivamente, esta acção pode não ter tido influência na eleição do Presidente da República mas teve, de certeza, na escolha dos deputados para a Assembleia da República.
NOT – Acha que o MDM veio agregar valor ao espectro político nacional ?
MD – Eu acredito no potencial do MDM, mas volto a referir, se continuar a cometer os mesmos erros tenho muitos receios que volte à base, como aconteceu com a União Democrática, depois de estar no Parlamento em 1994. Mas mesmo assim, com os oito deputados que tem o MDM pode vingar desde que demonstre um bom comportamento político e social. Devem aproveitar bem esse tempo. Se tiverem dez minutos, vinte minutos, devem aproveitar bem esse tempo com ideias e propostas construtivas. Também é preciso que MDM tenha como dirigentes pessoas que, de facto, querem servir os interesses do povo e não queiram ter exibições pessoais. O MDM deve, por outro lado, evitar lutas internas que lhe criam problemas. Tenho acompanhado a existência de problemas entre os dirigentes locais (cidade de Maputo) com os dirigentes centrais do partido…há uma certa luta, uma certa preponderância, uns querem estar à frente dos outros e o engenheiro Simango tem tido dificuldades em resolver estes pequenos problemas. Contudo, ainda quero admitir que tenho esperança no MDM. Quero alimentar a esperança de que o MDM é um partido que seja alternativo ao partido Frelimo.
NOT – A sua experiência de dois mandatos na Assembleia da República permite-lhe dizer que o MDM pode negociar a alteração do Regimento Interno da AR de forma a conseguir formar uma bancada com oito deputados?
MD – Julgo que terá dificuldades. É tão pouca a força que tem no Parlamento para poder convencer a Frelimo para formar bancada. Mas, se a Frelimo quiser mostrar que é um partido forte, pode apoiar a ideia do MDM. Porém, existirá sempre um problema para esta questão porque a Renamo não vai permitir que o MDM altere o regimento. Portanto não acredito que a coisa se trate nessa vertente. Mas o grupo está lá e nas condições em em que estiver pode mostrar trabalho. Não precisa de ir sempre para o Conselho Constitucional e outras instituição de recurso para apresentar queixas…a não ser que consiga reunir dois mil votos de cidadãos comuns para entrarem com uma petição na Assembleia da República, para forçar uma revisão do regimento. Isso é difícil, muito difícil e penso que não deveria se preocupar muito com isso. Deveria, sim, preocupar-se com a sua posição, apoiando a Frelimo naquilo que a Frelimo tiver razão e votar contra naquilo que a Frelimo estiver errado e procurar demonstrar esse erro mesmo que não tenham tempo de oratória a nível do Parlamento. Para tal, deve utilizar a imprensa moçambicana. A imprensa está sempre lá e devo dizer que é um dos aspectos positivos da nossa vida política. Há imprensa pró-governamental; há imprensa privada; há imprensa independente; há imprensa livre em Moçambique mas falta dinheiro, ao jornalista falta o dinheiro para viver mas têm uma profissão nobre, tão nobre como a parlamentar mas leva a informação ao povo, o que é importante. Não temos uma grande imprensa, mas temos uma boa imprensa.
OS “PECADOS” DA RENAMO
Maputo, Segunda-Feira, 1 de Fevereiro de 2010:: Notícias
NOT – Considera mesmo que a Renamo é, efectivamente, um partido em decadência?
MD– A Renamo teve sempre para mim um erro. Ela nunca procura por em prática o que orientou a luta dela contra a ditadura da Frelimo. Esqueceu-se! No Parlamento a Renamo só sabe tomar posições contra a Frelimo no sentido de dizer que a Frelimo é isto e aquilo. Procura sempre acusar a Frelimo e demonstrar os seus aspectos negativos. Por sua vez, a Frelimo também procura demonstrar os aspectos negativos da Renamo. Ninguém se preocupa, nas duas bancadas principais da AR, com o povo. Cada um se preocupa consigo próprio. Procuram, por exemplo, ter o carro através da AR, e quando o tem já nem se quer param para cumprimentar o povo, as pessoas que os elegeram…nem se quer os chefes tradicionais. Olha, a maioria dos deputados nem se quer conhece as famílias influentes e mais importantes de cada distrito, incluindo dos círculos eleitorais pelos quais foram eleitos.
NOT – Com essa sua afirmação posso depreender que dá nota negativa ao desempenho da AR no mandato findo ?
MD – Não. Foi positivo naquela missão de apoiar a governação no sentido de boa governação. Houve coisas que o Parlamento fez, por exemplo, quando aprova o Orçamento Geral do Estado, quando corrige algumas coisas nas comissões. Aliás, isso pode não se ver no plenário, mas a nível das comissões existe muita discussão com o Governo e o Parlamento acaba corrigindo muitas coisas vindas do Executivo. Nesse aspecto fizemos alguma coisa. Talvez a nossa preparação, os meios que nós temos, o ideal político que nos orienta, isso é que faltou. Falta-nos os meios logísticos, capacidade de argumentar e explanar as nossas posições… ninguém estudou, por exemplo, por que é que a justiça não esta boa no país, por que é que a escola não está, efectivamente, a preparar as pessoas para o amanhã. Dá-lhe o diploma mas não prepara o moçambicano com capacidade de trabalhar. O Parlamento deveria estudar isso através de jornadas parlamentares. Sugeri isso mas ninguém ligou. Sempre procurei pôr o interesse nacional acima do interesse pessoal mas não foi fácil. Isso falta no nosso Parlamento, incluindo a nível da bancada da Frelimo. Ainda estamos a partidarizar demasiado a chamada casa do povo”!
COLIGAÇÃO FOI UM PREJUÍZO
Maputo, Segunda-Feira, 1 de Fevereiro de 2010:: Notícias
NOT – O MONAMO ainda existe ou passou para a historia?
MD – O MONAMO, como eu tinha decidido e tendo em conta as nossas fraquezas financeiras e a pouca implantação a nível nacional, associamo-nos à Renamo e aí perdemos toda a nossa força, isto depois de termos sido o terceiro partido mais votado nas eleições gerais de 1994. Estávamos com muita força nessa altura, mas perdemo-la toda quando nos associamos à Renamo, porque tudo aquilo que poderíamos fazer de bem estava sempre conotado com os erros que eram praticados pela Renamo. Fomos metidos no mesmo saco e isso fez-nos atrasar na nossa militância política. Por outro lado, os próprios militantes deixaram de ter a militância do MONAMO, que era mais significativa e passaram a diluir-se numa militância da Renamo-União Eleitoral (que na prática não havia militância nenhuma).
NOT – Está arrependido por ter se coligado com a Renamo?
MD – Estou arrependido. Foi uma coisa que não valeu a pena. Posso dizer que foi um prejuízo. É verdade que consegui estar dois mandatos no Parlamento mas eu não falo a título pessoal. Aliás, a título pessoal até ganhei. Tenho a minha reforma agora. Isso nunca foi a minha preocupação mas acabei ganhando uma reforma através do Parlamento. Nesse aspecto não estou arrependido mas estou arrependido pelo trabalho que eu fiz colectivamente na bancada que nem sempre foi aquele trabalho que deveria ter sido.
NOT – Que futuro projecta para o MONAMO ?
MD – A minha ideia pessoal foi sempre de transformar o partido numa fundação ou organização não-governamental mas os meus companheiros acham que o partido não deve ser dissolvido assim e que se eu não quiser continuar a ser secretário-geral, por razões de saúde ou por qualquer outro motivo, que arranje alguém para ocupar este lugar. Neste momento está a ser difícil arranjar essa pessoa. Não encontro essa pessoa. Há dificuldades nesse sentido mas vamos ter um congresso entre 15 de Janeiro e 15 de Fevereiro para decidir o futuro do partido. É verdade que o último congresso avançou com a proposta da dissolução do partido mas agora vamos tomar a decisão final. Há benesses que se tem com um partido que muitos militantes não querem perder mas também acredito que podemos fazer algo mais para o país. Poderemos ter apoios financeiros e de outra natureza a partir da Europa e de alguns países africanos, isso se nós mostrarmos que merecemos esses apoios tal e qual como a senhora drª. Alice Mabota que tem conseguido apoio internacional para manter a sua Liga activa. Ela tem demonstrado trabalho e as outras organizações a apoiam.
MAIORA DA FRELIMO
Maputo, Segunda-Feira, 1 de Fevereiro de 2010:: Notícias
NOT – As eleições legislativas ditaram uma maioria qualificada para a Frelimo. Como analisa o futuro da AR tendo em conta este cenário?
MD – Considero prejudicial a maioria qualificada da Frelimo. Esta maioria, para mim, é demasiadamente má para a própria Frelimo. A Frelimo já não vai sustentar debates na AR. Contudo, penso que o Parlamento vai funcionar, vai ser mais produtivo porque a Frelimo tem condições para aprovar mais diplomas legais. Espero que sejam diplomas legais bem estudados no Governo, aliás, o Governo é que tem tido a iniciativa de lei, não tem sido o Parlamento.
NOT – Considera que haverá maior qualidade de debates na plenária da AR?
MD– Por iniciativa da Frelimo penso que sim. Seria bom que a Frelimo tivesse sempre esta iniciativa para mostrar que apesar de ter uma maioria demasiadamente grande está aberta ao diálogo.
NOT – O que espera dos 51 deputados da Renamo?
MD – Espero que façam alguma coisa se não na próxima legislatura passam para 38, depois para 20 e por aí em diante até serem substituídos na totalidade. É preciso que os deputados da Renamo ganhem consciência de que é preciso fazer alguma coisa. Eu ainda tenho esperança da Renamo, como organização. Espero que o presidente Dhlakama não diga coisas que depois não faz (ainda bem que não fez o que disse sobre incendiar o país). Mas não ameace inutilmente, só descredibiliza a sua imagem. A Renamo deve renascer das cinzas e, se possível se fundisse com o MDM mas para melhorar. Se não for para melhorar, não vale a pena. Essa fusão poderá criar uma verdadeira alternativa de governação.
NOT – Essa fusão passará pela retirada de Dhlakama da liderança da Renamo?
MD – Não é preciso. Se se tirar da cabeça da Renamo, que neste momento é o Dhlakama, o corpo não resiste, a organização pode desaparecer. Dhlakama ainda tem uma grande força política e social. Ele tem uma grande implantação nacional. Falta-lhe só bons conselheiros, capazes de o aconselhar a não dizer coisas que depois se arrependa.
Source: Mocambique Para todos
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