Embalados pelos protestos populares que sacudiram a Tunísia no início deste mês, milhares de egípcios planejam conduzir nesta terça-feira uma grande manifestação para exigir reformas políticas no país.
O evento, intitulado "Dia da revolução contra a tortura, corrupção, pobreza e desemprego", deverá contar com a participação de grupos sindicais, militantes islâmicos e até membros de torcidas de futebol.
Os organizadores pretendem se valer da insatisfação popular contra as forças de segurança egípcias, acusadas de torturar e tratar com truculência opositores, para atrair manifestantes em vários pontos do país e forçar concessões do governo.
Eles se espelham em acontecimentos recentes na Tunísia, onde uma onda de protestos levou à renúncia do presidente Zine El Abidine Ben Ali, em 14 de janeiro.
Apoio
Também devem ocorrer protestos em apoio à causa em Londres e em Washington. Manifestantes tunisianos se comprometeram a participar das passeatas em solidariedade aos egípcios.
As manifestações têm três objetivos principais: suspender a lei de emergência que vigora permanentemente no país (e que viola liberdades civis), forçar a saída do ministro do Interior e impor um limite temporal ao mandato presidencial.
Assim, esperam pôr um fim ao governo do presidente Hosni Mubarak, no poder há três décadas.
A Irmandade Islâmica, principal grupo opositor ao governo, disse que apoiará a manifestação, que também prevê a realização de greves e paralisações em vários pontos do país.
Boa parte dos partidos opositores anunciou apoio ao protesto, e ao menos 87 mil pessoas disseram numa página da rede social Facebook que participarão do evento.
Autoridades egípcias, no entanto, disseram que a manifestação é ilegal e que reagirão de forma "severa" com os participantes.
Em resposta ao protesto, simpatizantes de Mubarak se organizaram sob o slogan "Mubarak: a segurança do Egito". Eles pretendem conduzir passeatas paralelas em defesa do governo e "contra a destruição das instituições estatais pregada pela oposição".
Insatisfação
O analista político libanês Rami Khouri, do Instituto Fares da Universidade Americana de Beirute, disse à BBC Brasil que governos totalitários no norte da África e no Oriente Médio enfrentam insatisfação popular cada vez maior com a falta de soluções para os problemas econômicos e sociais e de liberdades individuais.
"O problema que assola a região é comum a todos -, a atual ordem política e econômica do mundo árabe, que é instável e insustentável, porque traz insatisfação para a imensa maioria de seus cidadãos", afirma.
De acordo com Khouri, a região vive um renascimento do ativismo árabe entre as populações mais jovens e mais conscientes, com fome de liberdades individuais, emprego e desenvolvimento.
Auto-imolação
O clima de tensão na Tunísia começou no dia 17 de dezembro, quando o desempregado Sidi Bouzeid, de 26 anos e com formação superior, foi abordado por policiais enquanto vendia verduras na rua. Após ter sua mercadoria apreendida, foi impedido de prestar queixa.
O jovem ateou fogo ao próprio corpo e morreu dias depois no hospital. A morte de Bouzeid iniciou uma série de protestos que se espalharam rapidamente pelo país e a capital Túnis.
Centenas de milhares de pessoas, entre estudantes, sindicatos e partidos de oposição, passaram a protestar contra o desemprego, corrupção e falta de democracia. Ao menos 78 pessoas morreram durante as manifestações, que se estenderam por um mês.
Pressionado, o presidente Zine El Abidine Ben Ali, que ocupava o poder desde 1987, renunciou e fugiu para a Arábia Saudita.
Com reportagem de Tariq Saleh, de Beirute para a BBC Brasil
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