O lixo e os buracos nas vias da capital provincial também estão a ser tratados de outra forma, “para enganar o chefe de Estado”
Nampula (Canalmoz) – Como é habitual por estas alturas do ano, o chefe de Estado moçambicano, Armando Guebuza, lança-se na propalada “presidência aberta” e “inclusiva”, como tal, as províncias, através dos seus governos, vão se preparando, à sua maneira, para a recepção do Presidente da República. Prevê-se, para o final deste mês de Abril, a deslocação de Guebuza a Nampula. Com efeito, medidas já começaram a ser tomadas para reduzir as ‘palmatoadas’ que o Executivo de Filismino Tocoli possa levar do seu chefe.
No ano passado, 2010, na província de Nampula, Armando Guebuza visitou sucessivamente os distritos de Eráti, Lalaua, Moma, Mogincual e a cidade de Nampula. No seu decurso, Guebuza não gostou de ouvir como é feita a gestão do Fundo de Desenvolvimento Distrital, FDD, antes designado por Fundo de Investimento de Iniciativas Locais, FIIL, mais uma das tais mudanças cosméticas de nome mas que só confunde os cidadãos e disfarça apenas os abusos que geralmente persistem com os dinheiros do erário público.
Os cidadãos denunciaram em larga medida, com a excepção do distrito de Lalaua, esquemas comissários dos administradores distritais para proveitos pessoais de dinheiro do FDD. Por exemplo, no distrito de Moma, onde o administrador Daniel Ramos (que cessou funções esta semana), os cidadãos até chegaram a provar ao chefe de Estado a gestão danosa daquele ex-governante.
Em conferência de imprensa, Guebuza dizia que investigações seriam levadas a cabo para apurar a veracidade dos factos, mas até ao fecho da presente edição não se havia falado ainda de investigação alguma no sentido de apurar se Daniel Ramos fazia ou não das suas com os fundos do erário público. Continua tudo no segredo dos deuses provando-se pelo menos até aqui que o que Guebuza diz não se escreve…
De acordo com fontes do Canalmoz bem posicionadas, no Governo da província de Nampula “o chefe de Estado tinha ordenado a cessação de funções do administrador Ramos, mas o governador Tocoli fez ouvidos de mercador”.
Segundo as fontes que nos reportaram o que se passou nos bastidores, “Tocoli deu uma oportunidade ao seu afilhado”, mas isso não era do agrado dos residentes de Moma. Estes permaneciam nervosos tendo em conta que no ano passado cidadãos percorreram mais de cem quilómetros até ao posto administrativo de Larde, onde Guebuza proferia um comício popular, para denunciar as desfeitas do “camarada” Ramos.
Agora, desde a segunda quinzena de Março, isto é nos últimos trinta dias, o Executivo provincial de Nampula, com Tocoli a liderar, vem-se desdobrando para ‘limpar a casa’ sendo a intenção criar boa impressão ao chefe de Estado na sua visita em breve, “sob risco de [Ticoli] perder o posto de governador de Nampula”, acreditam as fontes em que nos baseamos, que preferiam o anonimato por temerem represálias, facto corrente, aliás, nesta dita democracia moçambicana em que continua a persistir o medo e a ‘política da rolha’.
As mexidas nos governos distritais
Para evitar levar desaforos para casa, Tocoli fez algumas mexidas a nível dos governos distritais. Daniel Ramos já não é administrador de Moma. Para o seu lugar, foi movimentado o jovem Araújo Chale que desempenhava as mesmas funções no distrito de Lalaua (que foi muito bem falado no contexto da gestão da coisa pública, aquando da visita de Guebuza no ano passado). Para Lalaua, uma nova cara nas hostes governativas foi elevada. Trata-se de João da Silva Ncaca, que até a data desempenhava as funções de director da Escola Secundária de Namicopo, arredores da cidade de Nampula. Esteve nas suas últimas funções poucos meses depois de ter desempenhado as mesmas funções na Escola Secundária de Nampula. Agora é administrador de Lalaua.
Note-se que nomeação dos administradores distritais é feita pela ministra da Administração Estatal, sob proposta do respectivo governador da província.
Porquê Ncaca para Lalaua?
A Escola Secundária de Nampula congrega um grosso número de estudantes secundários a nível da chamada capital do norte, e durante as últimas eleições gerais e primeiras provinciais aquela escola “teve expressão e peso no trabalho político que conduziu à vitória da Frelimo”, segundo nos opinaram.
A medida representa um agradecimento ao apoio dado pelo “camarada” Ncaca ao partido Frelimo, pois mobilizou estudantes a aderirem às urnas para que a Frelimo manobrasse os resultados, segundo já acusou a oposição moçambicana. Enquanto director da Escola Secundária de Nampula, João Ncaca desempenhava comulativamente funções na Comissão Provincial de Eleições no último mandato daquele órgão.
O que faz a edilidade?
Não só Tocoli está “aquecido” com a vinda do chefe de Estado, mas também o economista Castro Namuaca não “pega sono” com tranquilidade. A cidade está a viver momentos irreconhecíveis na recolha de lixo. Já se recolhe lixo até às doze horas, com o sol ardente que tem caracterizado nos últimos tempos a cidade das “muthianas oreras”.
Não é só o lixo que está a ser bem tratado. Há melhoramentos nas vias da urbe. Estão ser feitos às pressas como nunca se viu. Ironicamente aqui se pode dizer que as avenidas não têm buracos pois são os buracos que têm ‘avenidas’ entre si. Há mais buracos que estrada. Mas como vem aí Guebuza a azáfama é grande para fazer crer que o serviço que as instituições públicas deviam fazer em prole do cidadão está a ser feito todos dias a preceito. Nada mais falso. Mas pelo menos estão a encher de saibro e a opinião pública até já goza dizendo que ao menos de vez em quando têm os “camaradas” preocupados em prestar serviços aos cidadãos. “Aldrabados mas é melhor que nada”. (Aunício da Silva)
DestaquesEstabilidade económica de Moçambique é falsa
Quem pega na vassoura para varrer este lixo?
Será a investigação social neutra relativamente ao conflito social?
.© Canalmoz 2010 .
No comments:
Post a Comment