BLOG DEDICADO À PROVINCIA DE NAMPULA- CONTRIBUINDO PARA UMA DEMOCRACIA VERDADEIRA EM MOCAMBIQUE

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Friday, March 18, 2011

Nampula quer resgatar produção do “ouro branco



AS empresas concessionárias que operam no sector agodoeiro na província de Nampula vão a partir da presente campanha agrícola providenciar incentivos aos pequenos produtores do sector familiar.

Maputo, Sexta-Feira, 18 de Março de 2011:: Notícias
A medida visa travar o abandono massivo da produção do chamado “ouro branco” a favor de outras culturas de rendimento como o gergelim, feijão boer, oloco e tabaco. Do pacote dos incentivos consta a redução dos custos de lavoura, tratamento químico das plantas e melhoria do preço de compra do algodão, antídotos que se acredita possam vir a salvar aquela cultura. A Sociedade Algodoeira de Namialo (SANAM) e a OLAM Moçambique, que em conjunto exploram uma área de 56 mil hectares, envolvendo um universo de pouco mais de 80 mil produtores do sector familiar, estão empenhadas no “resgate” da posição de Nampula na produção do algodão.

Issufo Normamade, presidente do Conselho de Administração da SANAM, disse em entrevista ao nosso Jornal que para este ano a sua empresa vai cobrar 1000,00 meticais por cada hectare lavrado, contra os 1500,00 meticais da campanha de 2009/2010. Quanto aos produtos químicos, cada um dos cinco tratamentos necessários para o algodão irá custar a cada produtor 85,00 meticais, contra os 100,00 meticais da safra passada.

Na sua óptica, trata-se de uma redução de custos de produção que de certa forma irá aliviar os encargos que os produtores têm de arcar no fim de cada campanha agrícola, que, diga-se em abono da verdade, os deixa financeiramente à mercê das concessionárias, que tecnicamente ficam com o fruto de todo o esforço do camponês.

“Como empresa concessionária, tenho de admitir que com este conjunto de incentivos que anunciamos para este ano não teremos muito espaço para fazer dinheiro, excepto se o mercado internacional se mostrar animador” – referiu Normamade.As incessantes subidas dos combustíveis, dos custos em químicos, degradação das vias de acesso para o escoamento da produção algodoeira são algumas das rubricas que têm estado a encarecer a produção daquela cultura em Nampula.

A degeneração da variedade da semente, do tipo AC/324 em uso há mais de uma década, a degradação dos solos, que não dão para além de 500 quilogramas, contra uma tonelada admissível, são desafios por vencer nos próximos tempos, mas que também não deixam de constituir preocupação.

“Mas como temos de salvar esta cultura, não só por ser tradicional para as comunidades de certas regiões de Nampula, como também em resposta aos apelos do Governo para fazermos alguma coisa, cá estamos nós...” - referiu.

A OLAM, que igualmente trabalha em nove agências, em Ribáuè e Laláua, com um universo de 13 mil produtores, irá por seu turno isentar os custos inerentes à destronca, alocando meios mecanizados.

A abertura dos novos campos, cujos custos serão suportados na globalidade por aquela multinacional, será precedida de um processo de estudo sobre o seu potencial para a prática do algodão com vista à obtenção de rendimentos acima de uma tonelada por hectare.

O produtor que trabalhar uma área igual ou superior a cinco hectares irá, a título gratuito, beneficiar de cinco tratamentos fitossanitários que o algodão exige. Rohit Chantuani, director da OLAM para a área do Algodão em Moçambique, disse recentemente que o crescimento dos volumes de produção pressupõe o aumento das áreas actuais de cultivo, daí a decisão da sua firma de isentar os custos inerentes à destronca, com a locação de meios mecanizados.

MONAPO NÃO QUER PRODUZIR ALGODÃO
Maputo, Sexta-Feira, 18 de Março de 2011:: Notícias
Para a mobilização dos camponeses, de forma a continuarem a produzir o algodão, este ano o Governo do distrito de Monapo teve de criar uma comissão de arbitragem, envolvendo a direcção local das Actividades Económicas, autoridades comunitárias e empresariado para não só falar dos incentivos postos à disposição pelas concessionárias, como também da importância da fibra daquela cultura no sector têxtil, bem como de alguns dos seus derivados, caso da semente e bagaço, na produção de roupa, óleo alimentar e ração animal, respectivamente.

José de Castro, chefe do posto administrativo de Netia, uma das regiões produtoras do algodão, disse ao nosso Jornal que, mercê destes pacotes de incentivos, “as comunidades decidiram este ano aderir massivamente à produção do algodão” – referiu.Contudo, as coisas não andam lá muito bem, como se pretende fazer crer, uma vez que há relatos de comunidades como as de Namichala, Mejana e Metarua que ainda se mostram resistentes em abandonar o cultivo de gergelim e feijão oloco.Naldo Horta, director das Actividades Económicas de Monapo, disse que este ano irá fazer 41 mil hectares de algodão, igual área da campanha passada. Segundo suas palavras, tudo está sendo feito para evitar a redução das áreas como consequência do abandono massivo da produção de algodão pelos camponeses.


DESINTERESSE DOS CAMPONESES LEVA À BAIXA PRODUÇÃO
Maputo, Sexta-Feira, 18 de Março de 2011:: Notícias
E não é para menos. Segundo dados disponíveis, na campanha passada pelo menos 9 mil hectares foram dadas como perdidas em consequência do desinteresse dos camponeses pela cultura do algodão.Ainda em Netia, há igualmente queixas dos camponeses segundo as quais os tractores colocados pela SANAM à disposição dos produtores para as actividades de limpeza dos solos são insuficientes para a demanda, daí que se pede o seu aumento.

Para este ano alguns produtores que falaram à nossa Reportagem fizeram questão de lançar um aviso à empresa SANAM. Segundo eles, não irão admitir a viciação das balanças usadas para pesar o produto por parte dos capatazes daquela empresa. De referir que na cultura do algodão, ao contrário de outras, a sua cadeia de produção compreende cerca de doze operações, nomeadamente a de preparação dos solos, sementeira, desbaste, ressementeira, sacha, aplicação de insecticidas, colheita, secagem, ensaque, transporte e consequente colocação no mercado, que duram uma média de seis meses.

•Assane Issa

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